diumenge, 31 de maig del 2015

O Direito à Infelicidade

https://vimeo.com/2648981

“O Direito à Infelicidade” é uma curta-metragem de animação da autoria do colectivo Nefasto, a partir de uma obra original do ilustrador português José Carlos Fernandes, realizada com recurso a uma técnica mista de sombras chinesas e stop motion animation.
Tendo como ponto de partida a difícil aceitação, no mundo desenvolvido, da infelicidade e inadequação, O Direito à Infelicidade hiperboliza a cada vez mais real e crescente sobre-medicação de indivíduos afectados pelo grande flagelo da nostalgia, da saudade, e da vontade de não sorrir.



Eu achava tudo aquilo absurdo, mas a Graciete e o Leocádio (e, a bem dizer, o resto da família) tanto insistiram, que acabei por ir fazer os exames, só para não os ouvir.

“pois pois, temos aqui um problema sério... felizmente detectámo-lo a tempo... estas depressões mórbidas podem ser fatais...”

“eu dizia-lhe, Jorge, isso não é normal...”

“sempre macambúzio, ensimesmado, não se entusiasma com coisa alguma...”

“vai tomar estes comprimidos que o vão pôr como novo... mas o mais importante é mudar de estilo de vida... diga-me: gosta de música?”

muito senhor doutor

“óptimo, a música é uma excelente terapia para a depressão... e o que costuma ouvir?

Mahler

Mahler? Mas isso é absolutamente contra-indicado. Está proibido, terminantemente proibido de ouvir mahler. Nada de mahler, músicas alegres, festivas, óperas bufas, operetas, valsas vienenses, zarzuelas. Ok?


claro que não deixei de ouvir mahler, apesar da Graciete ter apreendido os discos... e também não tomei os comprimidos... saía depois do jantar, com o pretexto de um jogo de cartas na sociedade recreativa...

(na rua, walkman nos ouvidos)

receava que, mais tarde ou mais cedo, descobrissem o meu estratagema, o que não podia adivinhar era que se preparavam medidas bem mais drásticas para pôr cobro a depressões e acessos de melancolia.

uma noite, ao passar junto do depósito de água da cidade, um lugar remoto e pouco frequentado, apercebi-me de uma movimentação inusitada.

(alguém despeja quantidades industriais de prozac no depósito)

durante os primeiros dias evitei beber água... mas acabei por compreender que era inútil resistir...agora estou bem... acho que nunca estive tão bem... já me rio de pessoas que tropeçam em patins e caiem de bicicletas e escadotes... e acho imensa graça aos humoristas que há uns meses atrás considerava uns cabotinos... quanto à música de mahler, parece-me agora uma tremenda maçada...